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GLOBAL ART

By Miguel Westerberg

FRAGMENTOS DE UMA VIDA Posté le Samedi 15 Mars 2008 à 19h54

Miguel Ângelo Pimenta Migueis Einar Westerberg nasceu em 31 dezembro de 1972, às 23h 33 min, véspera de ano novo. Sua mãe deu-lhe o nome Miguel Ângelo com o propósito de homenagear o famoso pintor italiano Michelangelo Buonarrot, se opondo a vontade do pai de Miguel Westerberg, Fred Eiver Westerberg [Sverige], que queria dá lhe o nome de Valentin Einar Westerberg, seu avô. Contudo, prevalece à vontade da sua mãe, Maria Antonieta Pimenta Migueis, filha de nobres, que vêm a perder em parte o seu patrimônio em 5 de outubro de 1910 com a queda da monarquia Portuguesa. Parte dos bens passa a pertencer ao estado republicano e a outra parte é dividida pelo resto da família. A concentração da maior parte fica nas mãos do avô – Mario Rodrigues Miguéis – que acaba por desperdiçar em viagens pela Europa, com o intuito de visitar as ruínas da segunda grande guerra mundial. Regressa a Portugal dois anos mais tarde, após ter se filiado ao partido comunista francês e, por aderir a suas idéias, extremamente proibidas pela ditadura de Oliveira Salazar, é obrigado a exilar-se na França por um certo tempo. Por não chegar ao conhecimento da PIDE, que ele já se encontrava fora do país, perseguem um indivíduo que é confundido com ele e o mesmo é barbaramente assassinado, pondo um fim à sua perseguição. Anos mais tarde volta a residir definitivamente em Portugal, casa-se e tem duas filhas, passando ai a dedicar os últimos anos de sua vida a pintura Naif apenas como um hobby. Sua filha mais velha, Maria AntonietaPimenta Migueis, por motivos de conflitos com o pai, decide sair de casa aos 16 anos e, devido às dificuldades que vem a enfrentar, é obrigada a se prostituir para sobreviver. Passa a freqüentar bares alternos junto ao cais de Matosinhos – Porto, onde conhece alguns marinheiros. Entre eles o sueco Fred Eiver Westerberg, cujo pai também tem uma grande aptidão para pintura, escultura e poesia.

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METAMORFOSE
 
Vindo ao mundo em uma época bastante conturbada, quando o país ainda se encontrava sob o domínio de uma ditadura fascista, que forçou uma grande parte da população a viver em condições existenciais sob humanas, acaba por enfrentar, juntamente com seus irmãos, as fortes dessa conseqüências desse período. Em 25 de abril 1974, o regime de Marcelo Caetano é derrubado pelas forças armadas e ele é deportado para o Brasil, onde veio a falecer em exílio. Em Portugal surgem novas idéias políticas, que geram reformas constitucionais e põe fim à guerra de Ultramar, que dá inicio a descolonização e independência a Angola, Moçambique, Guiné-bissau, Timor, São Tomé e Príncipe, dentre outras, causando receios de rebelião devido ao colonialismo que durou aproximadamente 500 anos. O país passa a enfrentar a sua maior crise, fazendo com que os colonos luso-africanos, sejam obrigados a imigrar para um país que até então pouco ou nada lhes dizia respeito. Devido às más condições financeiras, sua mãe é obrigada a viver na zona da Ribeira no Porto, ocupando apenas um cômodo de um prédio demasiado úmido e velho, onde viviam cerca de aproximadamente 20 famílias, que dividiam um banheiro coletivo e sem chuveiro, fato que levava os quatro irmãos a utilizarem-se da janela existente no quarto para despejar suas necessidades fisiológicas, já que a mesma era de frente para o rio Douro. A essa altura, pela primeira vez, recebe a visita do seu avô paterno, Valentin Einar Westerberg, que veio da Suécia - Gotenborg, para conhecer seus netos. Dois meses depois Miguel Westerberg, acaba por vir a sofrer, em parte, todas essas pressões, contraindo uma forte pneumonia, que o a deixou hospitalizado por um período aproximado de dois anos no hospital do Monte da Virgem, localizado na Vila Nova de Gaia. Após sua recuperação, sua mãe decide regressar a Lisboa com seus filhos. A continuação desse relato será descrito pelo próprio Miguel Westerberg, em uma das cartas enviada a um amigo.

“Caro amigo João Paulo, em continuação da carta que te enviei, gostara de te escrever um pouco mais sobre mim.

Lembras de quando te falei sobre a minha passagem pela Mitra em Lisboa? Então, vou te contar por escrito da melhor forma possível, pois na verdade não me lembro muito bem como fui parar lá, apenas sei o que o meu querido irmão Henrique me contou, sim, que a minha mãe nos tinha deixada numa pensão em Lisboa, enquanto ia “ganhar a vida” e como éramos muito pequenos, cada um se virava como podia. Normalmente era o Carlos Henrique que tomava conta de nós, mas já deves estar a imaginar como é uma criança de 10 anos a tomar conta de outras três: eu, a Mariana e a Tânia. Certa altura as pessoas da pensão decidiram que não estavam para agüentar tal coisa e chamaram a policia enquanto a minha mãe estava fora. Depois disso fomos levados para a Mitra, creio que por volta do ano de 1976. A minha mãe ainda nos tentou tirar de lá, mas foi tudo em vão, pois a vida que ela levava, de acordo com as autoridades, era uma vida que não dava estabilidade a uma família, devido à prostituição a qual se submetia para nos sustentar. Foi por esse motivo que ali fomos parar e hoje pela manhã me veio à mente alguns dos momentos vividos naquela instituição. Uma das primeiras coisas que me recordo é de que dormíamos todos em um grande dormitório, meninos de um lado e meninas do outro. Para ir ao quarto de banho tinha que passar por um corredor no qual havia no chão um pavimento em vidro e numa certa noite, enquanto me encaminhava para o dito quarto de banho, ao passar por esse mesmo pavimento, reparei que um dos vidros estava quebrado; senti uma certa curiosidade e acredita, antes não tivesse espreitado, pois durante anos afim essa mesma visão me perseguiu. O que vi foi nada mais nada menus do que um morto dentro de um caixão e ao seu lado uma viúva que o velava com prantos e lagrimas. A partir desse dia nunca mais fui o mesmo e a noite eu preferia urinar na cama a ir ao quarto de banho. Isso passou a me ocorrer até aos 15 anos e por mais que alguém tentasse me acordasse durante a noite, eu não conseguia evitar.
Há coisas que nos acontecem e que nem mesmo sabemos o porquê..., enfim! Outra ocasião, quando fui separado das minhas irmãs, o que me fez sofrer ainda mais, para ficar em um setor só de rapazes, a minha mãe foi me visitar e está foi à única vez em que me lembro de tê-la visto. Por mais estranho que te possa parecer, senti muito medo quando a vi, acho que devido ater ficado ali naquele lugar sempre fechado e sem contacto algum com o mundo exterior, pois eu era moço e vivia apenas com moços que como eu não tinha quem pudesse cuidar deles..., éramos crianças abandonadas.
Lembro-me de que alguns dos meus amigos me agarraram pelas pernas e braços na tentativa de me levarem para junto dela, mas mesmo assim, eu queria fugir e eles riam de mim sem parar. Na verdade, esta é a única imagem que tenho da minha mãe: ela vestida com trajes hippie, saltos muito altos, calça a boca de sino, cabelos compridos e uns grandes óculos que envolviam todo o seu rosto, para não falar nos seus lábios com um vermelho bem garrido.
 
Hoje isso pode parecer natural, mas naquela altura, como o país era muito atrasado, quem se vestia assim era considerada louca. Outra prova que tive que enfrentar foi a de ir à escola, pois no caminho tinha que passar por a tal casa mortuária. Para um adulto parece ser a coisa mais comum do mundo, mas para mim que era apenas uma criança, cada vez que eu tinha que passar por lá morria de medo e tinha sempre que esperar os meus amigos para irmos a escola. A minha sorte foi que passado dois meses eu sai do jardim infantil e fui para um setor só de rapazes, evitando assim aquele trajeto aterrorizante.
 
Como éramos todos pobres, as roupas que tínhamos no corpo era dada por varias instituições e só as trocávamos uma vez por semana. Havia uma mesa grande com cerca de dois metros por um e meio aproximadamente, onde um agente da policia com um lençol branco amarrado pelas pontas despejava as roupas. Ele abria-o sobre a mesa e cada um tinha que se virar..., era uma confusão tão grande que se não nos apressássemos levávamos apenas o que sobejava. Muitas vezes cheguei a andar com calças bem largas e sem meias, mas durante a semana íamos trocando uns com os outros, pois era impossível estar vestido naquelas condições.
Tinha também alunos muito agressivos e o pior deles era o Zarolho, que adorava lançar pedras nas nossas cabeças. Certa altura, já adulto, fui a Mitra e dei de cara com ele. Estava tão mudado que só o reconheci por causa da expressão do seu olhar. Não lhe disse nada, pois senti certo receio em fazê-lo. Acho que ele estava a trabalhar por lá, não estou bem certo disso. À noite, antes de irmos nos deitar, havia uma sala onde todos ficavam forçadamente sentados, de frente para televisão, sem poder falar ou rir. De todas as coisas absurdas que passei na minha vida, está foi sem duvida a pior, pois quem abrisse a boca para falar ou rir ficava de castigo. O castigo era bem duro: ficar de joelhos virado contra a parede e o pior de tudo era que, quem tomava conta de nós eram os rapazes mais velhos, que faziam questão de abusar dos mais novos.

Passei por muitas outras experiências dolorosas e alucinantes, que nem é conveniente relembrar, mas tive experiências positivas também. Foi nesse mesmo orfanato, que tive meu primeiro contato com a arte, acho que por volta dos oito anos de idade. Esse contato se deu em uma verificação de nível de conhecimentos adquiridos pelas crianças, onde o intuito da assistente social era medir a capacidade artística de um determinado grupo de alunos, no qual eu estava inserido. Com uma quantidade de argila, pude retratar uma imagem tridimensional de um elefante, que dias antes tinha visto em uma visita que fiz com meu avô paterno ao jardim zoológico, causando desde então a primeira expressão de espanto diante dos meus colegas ao constatarem a perfeição do meu trabalho. Também me recordo, com um misto de pesar e alívio, do dia que meu irmão foge do orfanato, por volta de 1979 e passa a residir no Colégio da Oficina de S. José no Porto.
Termino assim esta carta e espero que, através desse relato venhas a conhecer e entender um pouco mais sobre a minha maneira de ser e ver o mundo por vários ângulos e perspectivas diferentes.
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Miguel Westerberg
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