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GLOBAL ART

By Miguel Westerberg

FRAGMENTOS DE UMA VIDA Posté le Samedi 15 Mars 2008 à 19h55

Uma vez por ano o seu avô paterno o visitava e, em uma dessas visitas o levou ao zoológico, fato esse que o inspirou a moldar um elefante em argila e fazer o seu primeiro trabalho artístico. Quando o seu avô decide tira-lo do orfanato e leva-lo para morar com ele na Suécia, sofre um ataque cardíaco dentro de um táxi, já em Lisboa, por estar demasiadamente emocionado com a perspectiva de poder vir a ter o seu neto consigo. Anos mais tarde Miguel Westerberg toma conhecimento desse fato através do seu pai, que devido a sua profissão e ao alcoolismo, torna-se um pai extremamente ausente. O pouco contato que mantinham era através de cartões postais enviados ao filho de onde quer que se encontrasse ou então sempre que lhe era possível vir a Portugal. Em 1981 com idade de 15 anos, seu irmão Carlos Henrique, apesar de ser menor, toma a iniciativa de retornar à Mitra levando consigo o pai de Miguel Westerberg, a fim de transferi-lo para a Oficina de São José na cidade do Porto, onde ele já vivia. Ao chegarem ao colégio enfrenta a resistência do padre Alberto Assunção Tavares, diretor da instituição em ficar com ele por não ter sido devidamente informado da sua transferência com antecedência. O caso é levado ao tribunal de menores do Porto e por fim o padre se responsabiliza pela sua tutela até que viesse a completar seus 18 anos. Na Oficina de São José passa a viver uma nova experiência de vida, que não foi menos traumática, principalmente nos dois primeiros anos, quando vem a sofrer algumas agressões por parte das gangues do bairro da escola nº. 65 e do próprio irmão, que devido à falta de paciência em ter que lhe ensinar como se vestir e comportar-se, o agredia constantemente. Isso o leva a refugiar-se nos desenhos como uma forma de não ter que encarar a dura realidade em que fora submetido e desencadeia a falta de interesse pelos estudos. Passa, a partir dai, a dedicar-se quase que totalmente aos seus desenhos e, mais tarde, descobre o prazer de se pintar uma tela. De acordo com os próprios relatos de Miguel Westerberg, os dias na oficina de São José eram desta forma:


Acordamos por volta das sete horas da manha, o monitor que estava de serviço batia palmas e passava por cada quarto mandando-nos levantar. Fazíamos a nossa toalete e nos vestíamos para irmos tomar o café da manha, mas antes tínhamos que ir de dois em dois a carpintaria pegar um cesto de lenha para o fogão da casinha.Entravamos no refeitório e comíamos um pedaço de regueifa e café com leite. Depois alguns iam a escola, localizada fora do colégio, outros tinham que fazer limpeza, varrer os corredores e banheiros e os demais tinham que ir para a encadernação, tipografia ou carpintaria. Eu normalmente ia para a encadernação durante toda a manhã para dobrar folhas ou alcear cadernos para fazer blocos de recibos. As vezes chegavam livros para encadernar e dentre eles, toneladas de diários da republica, que só de ver dava desespero e vontade de chorar, pois tínhamos que coser os livros a portuguesa ou a francesa por horas a fio. Por volta do meio dia o seu Joaquim tocava o sino e todos nós, em fila indiana, entravamos no refeitório para almoçarmos. Após o almoço, alguns iam para a escola e os outros para os postos de trabalho.
Como a escola era fora do co légio saiamos sempre em grupo, pois os outros alunos dessa mesma escola eram muito rebeldes e adoravam implicar conosco. Isso me causava medo e raiva por ter que sempre procurar uma forma de fugir deles para evitar confrontos. Eram os rapazes das fontainhas e da rua escura. Com o passar dos anos eles me deixaram em paz debaixo de muitas lutas e sacrifícios, mas voltando a rotina do colégio, como o jantar era às oito horas, tínhamos que ir para a sala de estudo das 18 ate as 20 horas e só de pois quando sino tocava, sairmos para jantar. Os monitores não suportavam conversas nos horários de refeição, porque fazíamos muito barulho. Quando isso acontecia nos colocavam de castigo por aproximadamente duas horas sem podermos falar. Se nos comportássemos devidamente íamos para o recreio até as 22 h, retornávamos a sala de estudo onde ficávamos até as 23 h e só depois é que íamos descansar.
Eu ficava só em um dos quartos com janela que dava para ver o rio douro e a cidade Vila Nova de Gaia. Na verdade, da janela do meu quarto, eu podia ter uma paisagem deslumbrante que me fascinava. Os outros compartilham quartos que tinham entre três a seis camas. No fim de semana era diferente, principalmente no dia de domingo. Levantamos às oito para irmos a missa e só depois é que tomávamos o pequeno almoço. O restante do dia podíamos brincar, mas na hora do almoço, antes de sairmos do refeitório, cada um recebia uma pequena mesada entre cinqüenta a cem escudos, dependia da idade de cada um. Depois podíamos sair na parte da tarde para darmos um passeio pela cidade. Essa é uma das boas lembranças que guardo.
Sem duvida tive uma boa experiência na oficina São José do Porto, que contribuiu para a formação da minha personalidade e me marcou profundamente, devido às amizades que fiz durante esse período. Até hoje mantenho contato com alguns deles:
 
Crodonilson, Dr. Costa, Avantino, Sarafim, Paulo Sergio, Germano, José Leal, Dr. Agostinho, Dona Fatima, o Senhor Joaquim - o porteiro, a Dona Rosa - da lavandaria , Relvas, Espirito Santo, Adérito e Padre. Alberto Tavares, dentre outros.
Miguel Einar Westerberg
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